sexta-feira, 20 de março de 2009

Não me poupes. Maltrata-me, ignora-me, sê indigna de mim, mas não me poupes. Mente-me por medo de me perderes, não me mintas por piedade, por achares que é melhor para mim.
Sei - sabem todos - que o meu corpo mirrará à dimensão de um vaso esquecido ao pó das arrecadações, quebradiço e frágil, sensível. Sei - não sabem todos? - que o mundo vai acabar num dilúvio de lamentações. Mas será só por alguns dias, semanas, talvez, se já roubaste demasiado de mim. Por isso, não me poupes por não quereres ver-me triste. Não me poupes por te ter feito pensar que isso será o desmoronar do castelo das minhas emoções. Não me poupes com o egoísmo cruel de quem se julga altruísta.
Pede-me mais do que posso dar, abusa de mim para além da minha compreensão. Não me ames. Mas por favor, não me poupes. Não me mintas. Não me menosprezes à pequenez de uma criança a quem se garante que existe um Pai Natal.