quarta-feira, 8 de julho de 2009

São só coisas. Afinal são só coisas. Dispersas. Desarrumadas.
Há cinza no chão. Há mais de dois dias. Violência das horas que me comem o corpo e o deixam exausto, aqui, onde existem coisas. As tuas coisas. Não se me prendem nostalgicamente porque o teu calor já não mora aqui.
Apetece-me dizer que te odeio. Só porque sabe bem. Só porque é a única vingança que tenho de mim para mim, contra a agrura das memórias que me dissecam o pulmão e abafam o quarto. Não te odeio. É forte demais, robusto demais para a caixa dos pacotes de açucar, postais e coisas, coisas, que me lembram de ti.
Não te odeio, mas também não te quero, sem saber como não querer, quando a confiança se me esvai entre as linhas da palma da mão, sem teres culpa, agora, que já passou.
Podes dizer-me que não tenho razão, não tenho, e adoçar-me os sentidos com o gosto do teu abraço. Mas, a mim, abafa-me a convulsão de repetir hoje, como ontem, a imagem do engano. Nem sempre, nem todas as horas. Nem todos os meses. Quando a fragilidade toca, fere, vai embora. Lembro, calo, finjo, esqueço-me de ti.

1 comentário:

biz disse...

"contra a agrura das memórias que me dissecam o pulmão e abafam o quarto"


... uff. tão bom.