terça-feira, 30 de junho de 2009

As paredes estão mudas e os azulejos tiritam no vácuo da ausência da tua presença. Cada coisa no seu lugar, no de sempre, no que há-de ficar depois de me ir daqui. A chuva mata a sede e a melancolia da minha queda para a saudade, estúpida assim, saudade mesmo quando estás já ali.
O gato continua a lavar-se em cima da cama por fazer, virado para a luz que trespassa os cortinados encerrados. Eu continuo a chegar cansada e a derramar-me pelo sofá, alheia à louça que ficou do jantar do dia anterior, da fome e do resto que deveria fazer. Ainda há roupa tua, malas e livros. Quase que não se notaria a tua falta. Na almofada, os teus cabelos pretos ainda respiram. Mas olha. O vazio onde estava o frasco do perfume, a pasta e a escova de dentes, a espuma do cabelo. Os ténis tortos ao lado da cama.
As paredes estão mudas e com elas a casa toda. Continuo a chegar cansada, mas já não escorrego para o teu colo a reclamar de coisas parvas do meu dia. Já não comento o que está a dar na televisão nem fico dengosa a pentear-te os cabelos com as pontas dos dedos.
Está tudo igual. Excepto que não está.