sábado, 29 de março de 2008

sextas-feiras

Se saísse para fora de mim mesma, era isto que teria dito a mim mesma na minha noite de ontem:

Leis (simples) da vida
1ª se não dormiste convenientemente e passaste dois dias a carregar coisas que pesam o triplo do teu corpo, estás cansada. É um facto, não saias e vai mas é dormir.
2ª como és estúpida, saíste na mesma. se prometes que voltas cedo, faz um esforço para não seres fácil e te deixares convencer pelas amigas, sobretudo quando estás praticamente a adormecer e a babar para cima da máquina do tabaco.
3ª és solteira, vai haver sempre alguém que te quer apresentar alguém. é a vida. mas foge (FOGE!) quando dás por ti num bar, com as amigas a perguntar-te quem é que achas giro e, não fosse óbvia a situação, mandam a piada do "parece que estamos no talho".
4ª se te estão a tentar arranjar uma vítima e fazem-no apontando o dedo à dita, é normal que passadas as primeiras 24 vezes ela comece a sentir-se observada e venha até nós meter conversa.
5ª se estás cansada, não tens nada de interessante para dizer. cala-te.
6ª não aceites bebidas, por mais que tas empurrem pela goela abaixo.
7ª não voltes para casa às 5h da manhã, quando tinhas dito que só ias lá uma horinha beber um copo e casa contigo.


[até foi divertido]

Justice - D.A.N.C.E

Hoje apetece-me doçura.



sexta-feira, 28 de março de 2008

músicas da adolescência

Cardigans - For what it's worth

Jennifer Paige - crush

Correntemente a ler: Alta Fidelidade (Nick Hornby)


O primeiro dia passou num encher e esvaziar dos pulmões. Não me fez confusão absolutamente nenhuma entrar e sair daquela casa e pensar que era de vez. Não me fez confusão porque ainda estava viva em mim, à minha volta, presente porque sim, porque existe. Não me assolapou nenhum sentimento de abandono ou perda; estava demasiadamente ébria para isso, demasiadamente rápida, eficaz, alheia. O risco de sermos apanhadas tem destas coisas, e ainda bem. Estou viva.
Hoje foi diferente. Não foi mau, mas diferente. Voltei à casa e, estranhamente, senti-a mais minha do que quando lá vivia - é a velha história de darmos mais valor ao que perdemos, ainda que, neste caso, a questão da perda tenha nuances que não consigo encaixar numa frase cliché. A casa deixou de ser apenas uma casa e passou a ser o jardim com a relva grande demais - por falta de quem a corte -, as flores que a minha mãe plantou nos canteiros e que, na Primavera e no Verão, adoçavam as minhas tardes, e a varanda, a mais importante, a varanda. Cerca de 8 a 10 metros de chão com mosaico, paredes brancas, pilares castanhos - dos quais nunca gostei muito - um banco de plástico, cheio de pó. Esqueci-me por alguns minutos a pressa de arrumar coisas, de passar roupa a ferro, amansar o gato, fazer, fazer, fazer. Depressa. Esqueci-me do relógio que rebentava de urgência na parede, por três minutos, talvez. Só aí senti pena, nostalgia. Nada de grave, mas o suficiente para me deixar encostada à porta, de olhos perdidos pelo verde, o branco, os vermelhos e aquela grande linha esborratada de azul, ao fundo, o rio, o meu Tejo. Aí, tive saudades de coisas estúpidas como dos dias de agonia em que estudava, ali sentada, para os exames nacionais. Tive saudade do que pensei, do que senti, das epifanias - por mais breves que tenham sido - que me ofuscavam nas nuvens do céu azul, das minhas tardes de Verão.
Para onde vou não vejo o rio. Lembro-me, invariavelmente, d'Os Maias, da casinha na rua de S. Mamede (seria? não tenho a certeza), do Ramalhete, de cujo jardim se via apenas uma nesga do Tejo, e os paquetes que por lá passavam. Eu também vejo uma nesguinha de Tejo, entre antenas de televisão. Se chegou para o Afonso, chegará para mim, com certeza.
A nostalgia acaba-se quando sacudo com veemência a inutilidade destes pensamentos. Corro outra vez, rápida, eficaz - mas não alheia. Não consigo evitar a saudade do que fica para trás e foi bom - mais não seja porque sou portuguesa e, suspeito, tenho o Fado mais entranhado em mim do que possa admitir - mas é mais premente o sorriso do futuro que espreita por entre a minha nesga de Tejo. Penso, com um pé fora da porta, que não vale a pena chorar. Não vou deixar de escrever, só vou mudar o cenário das palavras que tenho para dizer.

A ouvir:Placebo - Johnny and Mary

quarta-feira, 26 de março de 2008

Às vezes sinto a tua falta. Não daquela maneira que dói e se amaldiçoa. Não com desespero ou tristeza, pensando que esvoaçaste como um lenço para outros ares, de outras dimensões. Mas sei que sinto qualquer coisa que é quase saudade, quase melancolia, ainda que não o chegue a ser, porque não dói, apenas acaricia, ao de leve. Porque não estás, fisicamente, nem te alcanço com a generosidade de apenas o querer, entrego-me ao sabor de músicas que sei tuas, como se nelas conversasses comigo e nelas contasses o teu dia; um misto de pequenas aventuras, algumas atribulações, praguejos diversos apimentados pela rezinguisse de te roubarem vida com tarefas que tens de fazer. Acima de tudo, vibram-me as cordas da guitarra algures entre a garganta e o espaço imenso que é o coração - sim, o coração, esse suspeito do costume -, vibra-me a doçura das letras, das vozes, das melodias, com o encanto de as saberes e elas saberem a ti.
Às vezes, quando sinto que o corpo se me entorpece e se transfigura, aninhada sobre mim mesma, como uma criança, sinto e sei que estou frágil. Sinto, e sei, que era capaz de te contar a vida como uma história, embora não o faça, mesmo que o abraço que me embala fosse o teu, e não apenas os meus braços adormecidos.
Agora, que algures em mim algo treme como tremiam as mãos pequeninas da minha meninice, gostava de te contar o meu dia, de dizer coisas que te fizessem rir e de saber que não te estava a contar tudo, mas que poderia, se quisesse, contar-te tudo. Talvez o fizesse, quem sabe. Se a nota certa me fizesse vibrar, como um tremor de terra, o chão, as paredes, as portas e as trancas que guardam aquelas coisas que tenho medo de contar.

Pushing daisies





Ab fab



I am Thin and Gorgeous! Right?

How soon is now






Ontem lembrei-me destas duas. Lembrei-me que, na altura que "rebentaram", ainda não tinha bem noção que poderia ser, ou não, lésbica. Lembro-me de ficar muito preocupada com a possibilidade de o ser porque ficava animadíssima a vê-las e a ouvi-las. Entretanto passou-me. Agora que revisitei os vídeos e algumas fotografias das ditas, apercebi-me que era mesmo um bichinho suburbano naquela altura, que ficava num misto de choque e, à falta de melhor termo, êxtase a ver as miúdas a darem uns xoxinhos incipientes, daqueles que damos à melhor amiga. De qualquer maneira, e apesar de, posteriormente ao sucesso que tiveram, se ter descoberto que afinal não eram lésbicas coisa nenhuma e era tudo uma estratégia comercial, fico contente que tenham aparecido. Pensando em retrospectiva, antes delas pouco se falava da homossexualidade feminina. A partir dos mexericos que levantaram, de certo modo, cativaram a atenção de adolescentes e adultos e, com certeza, tiraram algumas miúdas do armário. Por isso, ainda bem. E a música até fica no ouvido, dá para bater com o pé na parede.

segunda-feira, 24 de março de 2008

sábado, 22 de março de 2008

sexta-feira, 21 de março de 2008

a raínha

Out people.

Leisha Hailey
Queen Latifah
Jodie Foster
Ellen deGeneres
Portia di Rossi





Clip : Placebo : Protege moi - kewego
Clip : Placebo : Protege moi - kewego

Clip : Placebo : Protege moi - kewego
Aqui esta uma versao francesa do titulo "Protect me" do grupo rock Placebo ;)


Protege Mòi

"If I wasn't a transvestite terrorist, would you marry me?"

quinta-feira, 20 de março de 2008


"Os fantasmas não choram"






Une fille normale prendrait le risque de l'appeller tout de suite. Elle lui donnerait rendez-vous à une terrasse pour lui rendre son album et en quelques minutes, elle saurait si ça vaut le coup de continuer à rêver ou non. Ca s'appelle se confronter à la réalité, mais ça justement, Amélie n'y tient pas du tout

La valse d'Amelie
Bloopers



Showgirl



Mulher


Desenhei-te com flores de Maio, eu, que nunca soube traçar uma linha que fosse direita.
Malmequeres para os olhos, ramos de orquídeas como longos cabelos de todas as cores. Uma rosa vermelha é a boca que desponta de desejo, papoilas os teus braços esguios. Lírios, no pleno do seu aroma, recortam as curvas suaves do teu peito inconstante. O teu umbigo, margarida que estende um abraço na doçura de cada pétala, prepara a respiração que suspende sobre o centro da tua paixão, campo de girassóis sempre inquietos. Geribérias, longas pernas altivas, tulipas, pés delicados, gotas de laranjeira, o cheiro fresco da tua pele.
és de longe a mais bela, a mais misteriosa e a mais sedutora de todas as criaturas. A mais cuidadosa e a mais audaz. A mais frágil e a mais resistente. A mais sensível e a mais forte. E por seres fruto e flor do amor, serás mãe, filha, amante, amiga, companheira.
Mulher, brisa de Primavera, calor do Verão, melancolia do Outono, fertilidade do Inverno, acolhe-me no teu seio e protege-me de tudo o que é mau. Perde-me no jogo dos teus olhos que prometem e negam o teu querer e leva-me na dança do desfolhar do teu beijo, sempre diferente e imprevisível.
Desenhei-te no despertar das emoções para te não poder mais negar. Larguei, por ti, a segurança do que é banal. Pousei as armas e destituí os generais. Encaixotei os planos e estratégias de contenção e lancei-me nas brumas e feitiço desses teus véus de tantos ardis.
Desenhei-te, também eu mulher, para aprender a amar-te como a um jardim e a tudo quanto é puro e natural.
Perdida, encontrei em ti a beleza com a força de um gracejo.
Perdida, encontrei em ti a ternura do perdão, a liberdade da verdade e o prazer de ser, não apenas existir.
Mulher, contigo aprendi a saborear o vento e a última gota de uma tempestade. Contigo, e talvez só contigo, aprendi que a vida dói menos quando a trazemos livre, e nunca cativa, pela palma da mão.

segunda-feira, 17 de março de 2008



As sem razões do amor

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no elipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

Drummond de Andrade