quinta-feira, 20 de março de 2008



Mulher


Desenhei-te com flores de Maio, eu, que nunca soube traçar uma linha que fosse direita.
Malmequeres para os olhos, ramos de orquídeas como longos cabelos de todas as cores. Uma rosa vermelha é a boca que desponta de desejo, papoilas os teus braços esguios. Lírios, no pleno do seu aroma, recortam as curvas suaves do teu peito inconstante. O teu umbigo, margarida que estende um abraço na doçura de cada pétala, prepara a respiração que suspende sobre o centro da tua paixão, campo de girassóis sempre inquietos. Geribérias, longas pernas altivas, tulipas, pés delicados, gotas de laranjeira, o cheiro fresco da tua pele.
és de longe a mais bela, a mais misteriosa e a mais sedutora de todas as criaturas. A mais cuidadosa e a mais audaz. A mais frágil e a mais resistente. A mais sensível e a mais forte. E por seres fruto e flor do amor, serás mãe, filha, amante, amiga, companheira.
Mulher, brisa de Primavera, calor do Verão, melancolia do Outono, fertilidade do Inverno, acolhe-me no teu seio e protege-me de tudo o que é mau. Perde-me no jogo dos teus olhos que prometem e negam o teu querer e leva-me na dança do desfolhar do teu beijo, sempre diferente e imprevisível.
Desenhei-te no despertar das emoções para te não poder mais negar. Larguei, por ti, a segurança do que é banal. Pousei as armas e destituí os generais. Encaixotei os planos e estratégias de contenção e lancei-me nas brumas e feitiço desses teus véus de tantos ardis.
Desenhei-te, também eu mulher, para aprender a amar-te como a um jardim e a tudo quanto é puro e natural.
Perdida, encontrei em ti a beleza com a força de um gracejo.
Perdida, encontrei em ti a ternura do perdão, a liberdade da verdade e o prazer de ser, não apenas existir.
Mulher, contigo aprendi a saborear o vento e a última gota de uma tempestade. Contigo, e talvez só contigo, aprendi que a vida dói menos quando a trazemos livre, e nunca cativa, pela palma da mão.

Sem comentários: