Estou chateada. Não, estou irritada. É isso, estou irritada. Comigo, contigo, com a outra, com o outro, com aquele que não tem culpa de nada. Estou irritada por ser quem sou e não o que era, por ser o resultado imprevisto do potencial que sempre me pressionaram a estimar. Fartei-me, mandei tudo à merda, acabei com as expectativas. Agora não sei se sinto falta de ser mais do que
vulgar. Maior parte das vezes, não. Confesso. Sabe-me bem saber que talvez conseguísse se me esforçasse, mas deixo-me estar. Talvez um dia surpreenda alguém e esse, sim, será o
meu dia. Até lá, estou chateada - não, irritada - contigo, porque me deixaste. Com a outra porque não a entendo, nem sei bem até que ponto a quero entender. Com o outro porque foi um animal. Com o que não tem culpa de nada, porque é alheio, não tem utilidade para ninguém.
Toda esta amálgama de irritações deixa-me sentada, imóvel, com as pernas cruzadas em cima do banco, cansada. Quero ir viver lá para fora e gritar até a garganta me doer, mas não sei para onde, nem quando, nem com quem. Estou presa à minha eterna indecisão, entre o medo e potencial que poderia ter sido meu.
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