terça-feira, 21 de abril de 2009

Desculpa,
segredei baixinho ao teu ouvido. Tenho as mãos ásperas e frias. Já não te arrepiam a pele quando, ao de leve, invento uma desculpa para sentir o calor que emana de ti, do declive adorado das tuas costas e a curva marota do teu ventre quieto.
Não te produzo o efeito de desmoronamento sensorial quando adormeço, adormeces, com a minha respiração quente no pescoço. Não se te eriçam os cabelos quando falo baixinho das coisas que a televisão erradia no plano de fundo do teu quarto, nem quando te dou um beijinho, ao de leve, para sossegar os espasmos do sono a apossar-se de ti.
O teu peito sobe e desce como o vento num dia de temporal, mas não é por mim, não é pelos meus lábios tão perto dos teus, não é pela minha respiração que acelera e desacelera ao som da arritmia escondida nos escombros da caixa toráxica, pulsante de te pensar em sintonia com o meu desejo.
Não, dormes sossegada e não sentes a aspereza da minha mão. Não sentes o cuidado com que te toco a epiderme, receosa que descubras que é toda tua a suavidade, e não minha, quando te deito no aconchego do meu carinho.
Desculpa,
disse-te baixinho, quando saí em direcção à porta.
Não tens porquê,
bocejaste, ao acordar, sem dares pela falta do corpo que te tocou.

1 comentário:

Francesca disse...

É duro. E real. Quando a sombra que abandona o corpo não é sentida.

I get you there.

KIss