terça-feira, 21 de julho de 2009

Está em cima da escrivaninha. Ou debaixo da cama, já não sei. Podes espreitar e dizer-lhe olá, falar sobre a Revolução Industrial ou os usos básicos das figuras de estilo nos poemas de cartilha arrecadados na estante.
Está debaixo da cama e, se o cotão não te incomoda, podes deitar-te ao lado dela. Podes visitá-la, como eu, quando a figura presente deixa de agradar. Podes visitá-la, como eu, com a curiosidade de desvendar cortinas e portas cuja saída se perdeu.
A menina, tímida, dorme no soalho vazio do masoleu da adolescência febril. Brinca com esferas e cubos e palavras e planos importantes escritos a tinta vermelha.
A menina, baralho estruturado em castelo, repousa nos tons quentes e castanhos da disfunção controlada, da sede do elogio, da fome de verdade.
A menina tem futuro e palmadas nas costas do sucesso.
Não fala, mas diz. Não ouço, mas escuto.
O que não fiz, o que perdi, o que não sou.